São 15h e ainda faltam quatro para a primeira luta. O salão do Esporte Clube Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, está quase deserto, mas Newton Campos já dá as caras. Há muito a ser feito, como a pesagem dos lutadores e a divulgação de que naquela noite acontecerá mais uma rodada da Forja de Campeões, mais tradicional torneio de boxe amador do país.

A competição reúne neste ano 158 lutadores. Jovens com a esperança de que o esporte seja uma carreira dependem de Campos, jornalista de 94 anos que preside a Federação Paulista de Boxe há 30.

Ao final de cada rodada, Campos está exausto. A respiração é ofegante, e ele para por alguns segundos entre um raciocínio e outro.

A voz é entusiasmada porque ele acompanha a competição desde sua criação, em 1941, pelo extinto jornal A Gazeta Esportiva. Viu lutarem na Forja atletas que anos depois conquistariam cinturões mundiais, como Éder Jofre —“Eu o vi fazer uma exibição no Pacaembu aos 7 anos de idade”, lembra—, Miguel de Oliveira, Acelino Popó Freitas e Rose Volante. “Eu sou entusiasmado mesmo. Sem entusiasmo você não chega a lugar algum”, afirma Campos.

No dia seguinte, em seu apartamento no centro da capital, cercado de fotos, papéis e placas que remetem ao esporte que monopoliza sua vida por quase 80 anos, ele recomeça tudo.

Precisa atualizar a página do Facebook do torneio, falar esporadicamente a rádios que se interessam por boxe e preparar todo o material da rodada seguinte. Algumas pessoas o ajudam, como o secretário que está sempre em sua casa.

Ao mesmo tempo em que buscava informações sobre boxe nos jornais dos anos 1940 —e nas transmissões de rádio, quando possível—, Campos resolveu fundar no Brás, na região central da cidade, o Esporte Clube Coimbra. O terreno era próximo ao posto de gasolina que seu pai tinha no bairro.

A ideia foi reunir os amigos para jogar futebol, mas aos poucos ele montou uma academia para quem quisesse treinar o esporte que também é chamado de “nobre arte”.

“Eu nunca lutei, só assisti. Meu irmão Oswaldo lutou e era bom. Mas ele gostava mais da noite que do boxe e não deu certo”, relembra.

Newton Campos lembra de tudo. Sem consultar anotações ou a internet, cita dados, cartéis de lutadores, datas de combates e as memórias da infância. Todas as suas histórias são longas e cheias de detalhes, como a que explica a paixão por Carlos Gardel, o mais famoso cantor de tango na história, nascido na França ou no Uruguai (seu país natal é alvo de controvérsia), mas criado na Argentina.

Ele fala sobre como cantava as músicas do brasileiro Vicente Celestino, mas ouviu o pedido do pai para aprender os tangos. As fotos de Gardel estão espalhadas pela sua casa, assim como a de lutadores como Muhammad Ali e Joe Louis. Este último ele considera o maior de todos os tempos.

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