João do Pulo subiu sorridentemente ao pódio do estádio Lenin, em Moscou, há 40 anos, para receber sua segunda medalha de bronze olímpica no salto triplo. Brincou com os soviéticos dos degraus de cima e chegou a pisar no topo da estrutura para uma foto com Jaak Uudmäe e Viktor Saneyev.

Abraçou em seguida o técnico Pedro Henrique de Toledo e chorou de tristeza.

O atleta boa-praça de 26 anos fez questão de ser simpático com aqueles que haviam ficado à sua frente naqueles Jogos de 1980. Mas não se conformou com o resultado ou com o fato de ter botado os pés no patamar mais alto do tablado de premiação meramente como um convidado —mágoa que levou até a sua morte, em 1999.

Toledo, o treinador do brasileiro, hoje com 80 anos, ainda carrega o ressentimento. Ele não tem dúvida de que João tenha sido deliberadamente prejudicado para que um representante da União Soviética ficasse com o ouro. Foi a única explicação que encontrou para as faltas apontadas em 4 dos 6 saltos do então recordista mundial.

“O que atrapalhou o João foi ele ter sido roubado”, resume à Folha Pedrão, como sempre foi conhecido o técnico. “Ele fez saltos, acredito, acima dos 18 metros. Com certeza, ele ganhou a prova. Mas eles davam ‘foul’ para ele. Foi um episódio muito triste para os brasileiros e para mim, amigo e técnico do João.”

O salto que valeu o bronze foi de 17,22 m, na terceira das seis tentativas de João Carlos de Oliveira. A primeira registrara 16,96 m. Todas as outras investidas dele na direção da caixa de areia acabaram com a bandeira vermelha erguida, indicação de que teria sido ultrapassado o limite da tábua para o primeiro pulo.

Após uma delas, o paulista de Pindamonhangaba chegou a abrir seu largo e característico sorriso, certo de que havia concluído o salto da vitória, talvez do novo recorde mundial. Logo, porém, o semblante se desfez.

“Na segunda tentativa, saltou com muita disposição e foi tão longe que se levantou e gesticulou com as mãos vibrando de alegria, enquanto o público aplaudia. Mas o salto estava anulado”, relatou a Folha na edição do dia seguinte àquele 25 de julho, em texto intitulado “João queimou 4 saltos e 4 anos de luta”.

Ele havia chegado a Moscou com forte expectativa de brigar pelo primeiro lugar. Era uma caminhada sólida, com recorde mundial estabelecido em 1975 (17,89 m, marca imbatível por dez anos) e bronze na Olimpíada de 1976, em Montreal, competição que disputou contundido e contra a vontade do próprio treinador.

Em 1980, o cenário era duplamente diferente: João do Pulo estava no auge da forma, e os Jogos tinham outra cara. Se o atleta brasileiro vivia o pico de sua condição atlética, também havia crescido a tensão entre Estados Unidos e União Soviética no contexto da Guerra Fria.

A invasão russa ao Afeganistão foi a justificativa do presidente norte-americano,

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