O problema era o poder, na verdade: quem o detinha, quem o cobiçava, quem o manteria.

Com isso removido, e com as disputas ferozes entre aqueles que ameaçavam paralisar o futebol suplantadas por uma crise que eles não têm como vencer por meio de escambo ou intimidação, todas aquelas exigências incontornáveis se tornaram irrelevantes. Os impotentes não estão em condição de brigar sobre seus problemas.

Em apenas cinco dias –embora a sensação tenha sido de que muito, muito mais tempo transcorreu–, o futebol descobriu um espírito de “unidade”. Gianni Infantino, o presidente da Fifa, a organização que comanda o futebol mundial, percebeu o fato. O mesmo vale para Aleksander Ceferin, o presidente da Uefa, a organização que comanda o futebol europeu.

De alguma forma, apenas uma semana se passou desde que os dois se encontraram em Amsterdã no congresso anual da Uefa, com o primeiro tentando fazer as pazes e o segundo respondendo com uma esnobada: poses e vaidades que agora parecem pertencer a outro lugar, outro mundo.

Naquele momento e lugar, Fifa e Uefa estavam em confronto, por controle, por dinheiro, por tudo. E não eram as únicas: os clubes tinham sua agenda, as ligas, também. Ninguém parecia especialmente preocupado com aquilo que os jogadores desejam, e ninguém jamais se incomoda em perguntar aos torcedores o que acham. Os organizadores queriam mais torneios, ou ampliar seus torneios; mais partidas, mais prêmios, mais tudo, mais qualquer coisa.

De repente, quando Juventus, Inter de Milão, Real Madrid e Arsenal entraram em quarentena por conta do coronavírus, e quando ligas esportivas de todo o planeta decidiram paralisar suas atividades, ficou evidente que a questão já não era a necessidade de ter mais, e sim a realidade de que, por algum tempo, todos teriam nada.

Não fazia sentido, depois disso, brigar pelo poder, não quando se tornou claro, mesmo para figuras como as que comandam o futebol, que algo mais estava no controle.

Foi essa sensação de impotência que criou o novo sentimento de unidade no futebol. No final de semana, representantes de todas as partes interessadas no esporte examinaram contratos, fizeram contas e realizaram reuniões.

E –o que parece igualmente importante– alguns deles se dispuseram a ouvir. Quando a Uefa convocou a primeira de suas teleconferências da semana –primeiro com as ligas e clubes da Europa, e em seguida com as federações nacionais dos países do continente–, a estrutura básica de um plano foi desenvolvida.

A Eurocopa masculina que seria disputada na metade do ano teria de ser adiada, como já era ofuscantemente óbvio havia algum tempo, e a decisão foi a de que ela seria disputada nos mesmos locais, e mais ou menos com o mesmo calendário, no ano que vem.

Diversos torneios –os campeonatos europeus sub-21, a final da Liga das Nações e o campeonato feminino europeu– terão de mudar de data para acomodar esse ajuste.

Isso por sua vez cria espaço e folga no calendário para que a Uefa não só conclua as edições atuais de seus torneios –Champions League e Liga Europa–,

 » Read More

Login

Welcome to WriteUpCafe Community

Join our community to engage with fellow bloggers and increase the visibility of your blog.
Join WriteUpCafe