Há 30 anos, João Saldanha deixava o mundo dos vivos e entrava na história. Sem exageros. Gênio da raça, jornalista brilhante, comunicador excepcional, treinador campeão carioca pelo Botafogo de seu coração, criador das Feras do Saldanha que classificaram a seleção para a campanha do tri em gramados mexicanos, além de bravo militante do PCB.
São inúmeros os casos sobre a picardia e a coragem dele.
Pode-se dizer que era tão rápido no gatilho como na lÃngua, que nada deixava sem resposta, além da garganta fechada para engolir sapos.
Dizem que aumentava um ponto em cada conto. Dos que ouvi, e por qualquer motivo tive de checar, não havia o que pôr nem tirar.
Dele recebi o maior prêmio de minha carreira, devidamente emoldurada e na parede: uma coluna no Jornal do Brasil cujo tÃtulo é âPois é isso, Jucaâ, em 12 de agosto de 1987, para concordar com artigo meu na revista Placar.
Mas nem é disso que lembro agora, porque quero contar outra coisa, não para desfazer a imagem da valentia, apenas para mostrar a da generosidade.
Eu assumira a direção de Placar havia pouco tempo, em 1979, e fui convidado a participar de mesa-redonda no Rio.
Nunca tinha aparecido na TV e cheguei naturalmente tÃmido ao estúdio. De tÃmido a intimidado foi um passo, ao ver que Saldanha participaria do programa. Pensei imediatamente: âMinha mãe tinha de estar aqui para ver o filho com João Saldanha!â.
O programa começou, o âncora me apresentou e durante todo o primeiro bloco eu não disse mais que boa noite, porque, como sabem a rara leitora e o raro leitor, em boca fechada não entra mosca. No intervalo, Saldanha levantou, veio até minha cadeira e falou baixinho, em meu ouvido: âAmigo, a novidade hoje é você, trate de falarâ.
âMas ninguém me perguntou nadaâ, reagi.
âNão espere que perguntem. Cada um aqui quer aparecer mais que o outroâ, replicou.
Calado estava e calado permaneci