Depois que um juiz rejeitou as reivindicações de igualdade na remuneração feitas pelas jogadoras da seleção de futebol feminino dos Estados Unidos, ganhadora da mais recente Copa do Mundo, na sexta-feira (1º), não foram as palavras pronunciadas pela US Soccer (a federação de futebol dos Estados Unidos) que calaram mais fundo. Mais importantes foram as palavras não ditas.
A US Soccer não afirmou em ponto algum de seu comunicado de duas páginas sobre a decisão que estava feliz com o resultado. A federação, que começou a ser combatida judicialmente pelas jogadoras da seleção quatro anos atrás, tinha todos os motivos para celebrar, é claro.
Depois de uma disputa prolongada que abalou a reputação da organização, causou embaraços aos seus lÃderes, zangou os patrocinadores e ameaçou seu futuro financeiro, a decisão sumária do juiz em seu favor, quanto à reivindicação de igualdade na remuneração, não foi só um triunfo sobre as jogadoras. Foi uma rejeição devastadora do argumento central das reclamantes.
As jogadoras vinham argumentando há anos que recebiam remuneração menor do que as de seus colegas na seleção masculina americana. Elas repetiram em numerosas ocasiões que mereciam pagamento igual.
Repetiram essa palavra de ordem em hashtags, camisetas e entrevistas coletivas, e ouviram os torcedores do time a usarem como grito de guerra em partidas amistosas, na final da Copa do Mundo e nas paradas com que o time foi recebido ao retornar.
E depois de tudo isso, em um parágrafo demolidor da decisão anunciada na sexta-feira, o juiz encarregado do caso, R. Gary Klausner, da justiça federal dos Estados Unidos em Los Angeles, lhes informou que elas não tinham razão.
Klausner escreveu que a US Soccer não só não pagava menos à s mulheres do que aos homens como que os argumentos da defesa o haviam convencido de que âa seleção feminina havia recebido pagamentos cumulativos e pagamentos médios por jogo superiores aos da seleção masculinaâ, nos anos cobertos pelo caso.
As provas apresentadas pelos advogados das reclamantes para contestar a matemática da federação, ele concluiu, âsão insuficientes para criar uma questão factual genuÃna que embase um julgamentoâ.
Na prática, ele afirmou, as jogadoras não teriam qualquer possibilidade de vitória.
A brutal ironia, evidentemente, foi que, ao escolher lutar contra a US Soccer em um momento no qual estavam no apogeu de sua força âcampeãs da Copa do Mundo, estrelas na mÃdia social, e respeitadas porta-vozes internacionais do empoderamento femininoâ, as jogadoras da seleção americana também escolheram o pior momento possÃvel para comparar alguns anos de sua remuneração à remuneração da seleção masculina.
Desde fevereiro de 2015, a data base definida para a ação coletiva, a seleção feminina ganhou duas Copas do Mundo (e recebeu milhões