Único time da região do Cariri (sul do Ceará) na primeira divisão do Estadual e com vaga na Copa do Brasil, o Barbalha tinha altas expectativas para 2020.  No final do ano passado, o time da cidade homônima de 60 mil habitantes, colada em Juazeiro do Norte, decidiu investir em uma contratação de impacto.

O presidente, Lúcio Barão, soube que o ex-goleiro do Flamengo Bruno, em regime semiaberto, buscava voltar ao futebol. “Ele não esqueceu de jogar bolar. E seria uma vitrine de marketing para o clube”, diz. “De repente, ele faz um gol de falta, pega um pênalti, promoveria o clube. A gente pensa assim, né?”.

Por meio de intermediários, Barão diz que “apalavrou” a contratação com o jogador. “Já tinha acordado uma casa para ele e um carro e um salário que eu poderia pagar”, afirma, sem revelar o valor.

Mas Barão subestimou a reação no município, especialmente do maior patrocinador do clube, a prefeitura de Barbalha. São R$ 150 mil por temporada para a equipe. E o prefeito, Argemiro Sampaio Neto (PSDB), deve ser candidato à reeleição em outubro.

“Ia ter protesto todo jogo. Não é hora de polêmica associada à prefeitura”, sentenciou Neto. “Sou a favor da ressocialização do Bruno. Mas não precisa ser no meu time.”

Desde julho do ano passado, quando Bruno Fernandes de Souza, 35, deixou a cadeia em que cumpria pena em razão do assassinato de Eliza Samudio, propostas e sondagens de times pequenos para contar com o seu futebol se sucedem.

Já foram ao menos quatro contatos com clubes, confirmados por sua defesa, mais um sem-número de convites que ficaram no campo da especulação. O roteiro se repete: ele aceita conversar, a negociação vaza, e uma forte reação impede que ela se concretize.

Em geral, os clubes embalam o convite com o discurso de ajudar um ex-presidiário a se ressocializar, mas não escondem o potencial de marketing que a contratação traria. A resistência vem da torcida e de interesses empresariais e políticos que temem o desgaste da imagem.

Após o fracasso da conversa com o time cearense, foi a vez de o Fluminense de Feira de Santana (BA) cortejar Bruno. A negociação foi divulgada na virada deste ano.

“Bruno quer uma oportunidade, quer trabalhar. Estão matando ele mais uma vez”, diz o presidente do clube, Pastor Tom, que também é deputado estadual pelo PSL e um dos organizadores no estado do Aliança Pelo Brasil, o partido que o presidente Jair Bolsonaro quer criar.

Membro da Igreja do Evangelho Quadrangular, ele não vê contradição entre a linha dura contra o crime pregada por Bolsonaro e a tentativa de contar com Bruno. “Quem sou eu para não perdoar alguém, se Deus perdoou?”, afirma.

A chegada do atleta, acredita o presidente, poderia atrair atenção. “Já tinha patrocinador que ia bancar a vinda”, afirma o pastor, que não revela o nome do benfeitor e nem qual seria o salário acertado.

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