A quarentena logo vai passar dos 40 dias. Ela não será chamada de âcinquentenaâ, nem de âsessentenaâ, embora possa chegar a essas dezenas. Ser denominada como distanciamento social basta para se perceber que tudo está muito diferente.
Como conviver e sobreviver ao isolamento ou distanciamento se o ser humano é essencialmente um ser social? Para compreender este momento só mesmo ouvindo Nando Reis cantando Relicário: âO que está acontecendo? O mundo está ao contrário e ninguém reparouâ.
O espetáculo esportivo teve que parar, assim como as atividades não essenciais que envolvem pessoas, seres esses vulneráveis ao poder de um vÃrus. Percebo pelos jornais e pelas redes sociais como o esporte faz falta à sociedade. A ausência das competições traz consigo uma inércia dolorida que apaga toda a trama novelesca que mobiliza o fenômeno: treinos, bastidores, lesões, cartolagem e puxação de tapete.
Diferentemente do cenário musical em que os artistas fazem suas âlivesâ de casa, da beira de uma piscina luxuriante ou do banheiro, os atletas, mesmo nas modalidades individuais, precisam de um adversário para protagonizar o seu espetáculo. Transmitir treino fÃsico solitário certamente não garante nem 30 segundos de pura emoção. A competição é a alma do esporte e, para isso, é preciso o encontro entre duas ou mais pessoas habilidosas. Assim se produz o encantamento que resiste ao tempo e ainda mobiliza as novas gerações.
Observo com curiosidade a sobrevivência de algumas emissoras, e de uns tantos programas, transmitindo e discutindo jogos do passado. Consagrou-se assim os tempos do spoiler esportivo. Crianças e jovens podem rever jogos consagrados, seja pela conquista do campeonato ou pelo resultado adverso, com a emoção de uma transmissão preparada para ser âcomo se fosse a primeira vezâ.
Pais e mães antecipam as jogadas que resultarão no ponto, ou no gol, da consagração, ou no furo que levou à derrota. E somado a tudo isso vem a inevitável frase âvocê se lembra que…â. E lá vem a história do tio, da prima,