No último dia 25, o estádio da Bombonera, um ícone da paisagem portenha e casa do time mais popular da Argentina, o Boca Juniors, acendeu suas luzes como se vivesse um dia normal de jogo.

Mesmo sem receber partidas desde março, quando o futebol foi interrompido no país por conta da pandemia da Covid-19, os dirigentes decidiram que haveria uma comemoração dos 80 anos do estádio.

Foi transmitido pelas redes sociais um pequeno evento de dentro da Bombonera, iluminada com os refletores que costumam dar vida ao tradicional bairro de classe média baixa de Buenos Aires.

“Foi muito bonito. Tem havido demasiado desânimo por aqui hoje em dia, sem futebol e com tanta gente doente”, diz Artemio Sagrario, 48, habitante do bairro de La Boca que está sem trabalho por conta da quarentena obrigatória.

“Eu vendia de tudo na feira dos fins de semana, bandeiras e camisas do Boca Juniors, souvenires. Agora não temos turistas, não podemos abrir o comércio, não ganhamos dinheiro, é uma tristeza. A luz vinda do estádio nos encheu de esperança para o futuro”, completa.

De fato é esquisita a sensação de caminhar pelas ruas do bairro atualmente, praticamente vazias. Principalmente se comparada ao caos e à multidão de antes, quando o turismo as enchia de gente. A Boca também comemora um aniversário emblemático neste ano, o seu 150º.

Em geral, a região do famoso “Caminito” e os quarteirões ao redor estão sempre vivos, com suas cantinas e “parrillas” lotadas. Agora, resta o deserto. Crianças curiosas colocam a cara para fora das casas. Alguns moradores se juntam em rodas para conversar em tom baixo. A maioria usa máscara, e alguns, claro, a camiseta do Boca Juniors.

Fãs mais antigos do clube gostam de lembrar de quando os arredores do estádio não estavam tão degradados. Até os anos 1960, a Boca era um bairro descolado, com cafés, livrarias, vida boêmia e boas escolas.

A chegada de imigrantes em massa, sem que houvesse estrutura para abrigá-los, levou à criação de cortiços (ou “conventillos”) e sobrecarregou a estrutura sanitária e de serviços, que não foi modernizada pelos governos desde então.

Com isso, hoje muitos vivem em espaços pequenos. A dengue é outro mal que se alastra todos os verões, uma vez que o Riachuelo, antes um rio transitado e agradável, aos poucos foi se transformando em esgoto.

A pandemia também trouxe fome para a região. Grande parte da população vive do comércio informal nas ruas, agora impedido.

“É uma pena sua decadência, pois sua personalidade sempre marcou muito Buenos Aires. Foi o bairro dos anarquistas, dos laicos, onde a Igreja não conseguia entrar e havia até procissões para o diabo. Esse passado rebelde ainda compõe o espírito do bairro, mas é uma pena sua degradação social e econômica”, diz o cronista esportivo Ezequiel Fernández Moores.

Associações de moradores aliviam a situação com distribuição de comida.

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