âAs ondas do coronavÃrusâ, foi o apelido que surgiu.
Ondas espetaculares, da ordem de oito metros de altura, varreram o famoso recife de Teahupoâo, no Taiti, naquele dia, um mês atrás.
AudÃveis a quilômetros de distância, as ondas de Teahupoâo âque abrigará a competição de surfe da OlimpÃada de Paris, em 2024â normalmente ecoam como um código Morse com força de trovão, convocando os melhores surfistas de todo o planeta. Dezenas deles teriam chegado ao recife, de barco, e apanhado caronas em jet skis na direção da rebentação, acompanhados por equipes de filmagem posicionadas em helicópteros.
Mas naquele dia, havia muito pouca gente na água. âNem mesmo um barcoâ, disse Tikanui Smith, um surfista profissional taitiano que vive em Teahupoâo e cujas façanhas no torneio local já lhe valeram diversas indicações para o prêmio “Ride of the Year”, da World Surf League (Liga Mundial de Surfe).
A mesma coisa aconteceu quando a maré sul quebrou em Pleasure Point, no condado de Santa Cruz, Califórnia, em 9 de abril, o primeiro dia de uma proibição de ida à praia que duraria uma semana. âNós só pudemos ficar lá olhando as ondasâ, disse o surfista profissional Kyle Thiermann.
âEm um dia de mar bom como aquele, normalmente você vê 100 surfistas na água. A sensação para mim foi a de ter entrado em uma máquina do tempo que me levou para uma época em que o surfe ainda não existiaâ.
De Bali ao Brasil, da Costa Rica à Califórnia, a pandemia paralisou o surfe, quer por conta de proibições de acesso às praias, quer porque os surfistas não tinham como chegar a elas. Mas alguns lugares se mantiveram abertos, agravando a distinção entre os surfistas capazes de entrar no mar e os condenados a ficar em casa.
A WSL suspendeu sua Championship Tour em 12 de março, duas semanas antes da abertura da temporada, em Gold Coast, na Austrália. O circuito anual leva os surfistas a algumas das ondas mais famosas do planeta âdo Eastern Cape, na Ãfrica do Sul, à North Shore de Oâahu, no HavaÃ. O anúncio da suspensão abalou o mundo do surfe. Quatro dias mais tarde, a liga adiou ou cancelou todos os seus demais eventos até maio âna terça (28), o adiamento da liga foi postergado até junho.
Mas os surfistas continuam a ser atraÃdos pelo mar âlegalmente ou não.
Na Austrália, as decisões quanto a restringir ou não o acesso às praias foram deixadas aos legislativos locais. Algumas praias em Sydney estão fechadas há semanas, e outras, como a Bondi Beach, reabriram para uso entre as 7h e as 17h, nos dias de semana, e apenas para os esportes aquáticos. Estender uma toalha na areia pode valer multa de US$ 1 mil.
A surfista americana Lakey Peterson, terceira colocada na Championship Tour da World Surf League em 2019, está na Austrália desde antes da suspensão da liga.