Todos os dias, Maria Núbea Lins, 30, e o marido, Marcio Prada, arrastam o sofá do apartamento de 50 metros quadrados em que moram no Rio de Janeiro. O espaço é pequeno, mas eles conseguem improvisar um tatame.

Exercícios físicos e individuais não bastam para a atleta, que almeja participar em 2021 de sua primeira Paraolimpíada. Ela precisa praticar os golpes. A solução, então, é sair do apartamento, colocar parte do tatame no corredor do prédio e ignorar os olhares curiosos dos vizinhos.

“Eles [os vizinhos] até acham interessante. Nunca tinham visto isso”, afirma Maria Núbea, que tem deficiência visual, à Folha.

Prada, que era seu personal trainer até o início da pandemia da Covid-19, teve de aprender a cair no meio do corredor.

“Meu marido normalmente não treina judô comigo. Eu treino com atletas de alto rendimento. Tivemos de criar uma oportunidade para continuar ativa”, ela diz.

Maria Núbea é a 20ª colocada do ranking mundial até 52 kg. No começo do ano, seu planejamento era obter a vaga na Paraolimpíada em Tóquio em torneios que seriam realizados em Baku (no Azerbaijão) e Londres, mas ambos acabaram cancelados por causa do coronavírus.

Os Jogos no Japão foram adiados para 2021, e Maria Núbea ainda não sabe quando ou em que circunstâncias voltará a competir.

Com toxoplasmose congênita, ela não enxerga nada com o olho esquerdo e tem 10% da visão do direito. A ajuda do marido passou então a ser essencial.

Os treinos são filmados e enviados para o Instituto Reação e para os técnicos da seleção brasileira. Ela é atleta do instituto desde que começou no judô, há cinco anos. O Reação foi criado em 2003 por Flávio Canto, medalhista de bronze na Olimpíada de Atenas, em 2004, para promover o judô como ferramenta do desenvolvimento humano.

A judoca Rafaela Silva, medalhista de ouro nos Jogos do Rio-2016, foi formada no instituto.

O improviso nos treinos e a indefinição quanto às competições não incomodam Maria Núbea. “Na vida, a gente precisa saber se reinventar”, afirma.

Foi o que fez aos 25 anos, quando decidiu abandonar a natação, esporte que iniciou aos 9 no Instituto Benjamin Constant, que oferece apoio a pessoas com deficiência visual. Mesmo considerada uma atleta de ponta nas piscinas, ela queria ser mãe.

Nicolas, seu filho, nasceu em 2014. Ainda nadadora

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