Na última semana, comemorou-se um ano de mais um feito histórico de Marta no futebol. Até 2019, o alemão Miroslav Klose era conhecido como âo maior artilheiro da história das Copasâ, com 16 gols.
Sendo assim, imaginava-se que, se um dia alguém fizesse 17 tomaria dele esse posto. Marta fez, mas dizem que âsão esportes diferentesâ o futebol praticado por ela e pelo alemão (ainda que tenham as mesmas regras, as mesmas dimensões de campo, gol e bola).
Disseram que Marta é a maior artilheira das Copas femininas (o que ela já era antes de começar o Mundial de 2019) e Klose é o maior artilheiro das Copas masculinas. O curioso é que quando falam dele, costumam se âesquecerâ de colocar o âmasculinasâ no final. âNão faz sentido a comparaçãoâ, foi o que ouvi muitos dizerem.
Não há comparação alguma nesta frase: Marta é a maior artilheira das Copas. Por que essa afirmação incomoda tanto? Por que há uma necessidade tão grande recém-adquirida em reafirmar Klose como maior artilheiro da história da âCopa do Mundo masculinaâ e Marta como maior artilheira da história da âCopa do Mundo femininaâ? Até 18 de junho de 2019, não havia nenhuma exigência para adicionar o âmasculinaâ na hora de falar do feito de Klose. No dia em que uma mulher o ultrapassou, curiosamente eles se lembraram: são coisas diferentes, precisa especificar o gênero.
Já repararam que nos acostumamos a subentender que, quando falamos de um esporte ou de uma competição sem especificar o gênero, estamos falando da modalidade masculina? O maior artilheiro das Copas, a maior artilheira das Copas femininas. O maior artilheiro da seleção brasileira, a maior artilheira da seleção brasileira feminina. O maior vencedor do tênis, a maior vencedora do tênis feminino.
Em português, quando se fala em artilheiro, já se especifica o gênero âainda assim, no feminino a gente faz duas vezes. Em inglês, não há designação de gênero na pergunta âWho is the top scorer of the World Cup history?â (Quem é o maior artilheiro da história da Copa do Mu