A noite estava chegando ao fim no The Rieger, um restaurante casual mas nada barato em Kansas City, e um par de torcedores do Denver Broncos que visitaram a cidade para assistir a um jogo de futebol americano no mês passado estavam em pé no bar, trocando gracejos com torcedores dos Chiefs, o time local.

Em dado momento, os torcedores dos Broncos atravessaram o salão do restaurante. Foi o momento em que um torcedor dos Chiefs escolheu para um gesto que é tão parte da identidade do time quanto seu uniforme vermelho. Ele moveu o braço pelo ar em um gesto que simula um golpe de machadinha, enquanto entoava um canto de guerra.

Não demorou para que cerca de 50 dos presentes ao restaurante deixassem de lado os talheres, se voltassem na direção dos torcedores adversários e repetissem o gesto, movendo as mãos pelo ar em uníssono e enchendo o restaurante com o ruído de seu canto de guerra.

O time é muito querido na cidade e deixou sua marca na cultura local, quer seja na tradição de usar vermelho às sextas-feiras anteriores a jogos em casa, quer seja no costume de mudar o verso final do hino nacional americano para “and the home of the Chiefs”, antes do pontapé inicial no Arrowhead Stadium.

Mas talvez o símbolo mais indelével da torcida dos Chiefs seja aquele que une os defensores do time e divide muitas outras pessoas: o golpe de machadinha.

Agora que os Chiefs estão chegando a um dos maiores palcos do esporte, participando de seu primeiro Super Bowl em 50 anos, essa tradição vem sofrendo escrutínio mais intenso.

Para muitos torcedores, o gesto e o canto de guerra que o acompanha –uma imitação de um golpe de machadinha e um canto de guerra inventado, empregados também pelos torcedores do Atlanta Braves, do Florida State Seminoles e do Exeter Chiefs, um time de rúgbi da Inglaterra– são uma maneira de demonstrar solidariedade ao time e intimidar a oposição.

Mas para muitos americanos de origem indígena –tanto moradores da região quanto de outras áreas—, o ato é um gesto desrespeitoso que perpetua estereótipos negativos sobre os habitantes originais dos Estados Unidos e representa um embaraço para uma cidade que se vê como um polo de cultura e inovação na região centro-oeste.

“Isso não é uma demonstração de orgulho por Kansas City”, disse Howard Hanna, proprietário e chefe de cozinha do The Rieger, ao descrever seu incômodo com a demonstração improvisada que aconteceu em seu restaurante. “Faz com que pareçamos estúpidos.”

Os Chiefs em geral escaparam das controvérsias mais sérias no debate nacional sobre mascotes associados à cultura e imagem indígenas nos esportes.

O nome do time não evoca um epíteto ofensivo, como o do Washington Redskins, e sua mascote não é uma caricatura com o rosto pintado de vermelho como o chefe Wahoo, que era parte do logotipo que o Cleveland Indians começou a substituir dois anos atrás.

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