Silêncio. à curioso que uma das primeiras marcas do mais lendário templo de futebol do mundo tenha sido justamente o vácuo, o nada. Foram 200 mil vozes caladas por um gol indesejado.
O Maracanã, que nasceu em 16 de junho de 1950 para ecoar o tão sonhado grito de campeão mundial dos brasileiros, um mês depois viveria a maior antÃtese de sua história. Mas o gigante não se encolheu silenciado. Naquele 16 de julho, há quase 70 anos, o futebol testemunhou o maior e mais profundo silêncio já reproduzido neste planeta.
Talvez aquela traumática experiência afônica tenha servido para nos dar uma lição. Se o maior do mundo poderia fazer aquilo com o silêncio, qual seria seu potencial com o ápice do som? Imensurável.
Quem já subiu as rampas de acesso do Maracanã em dia de jogo lotado sabe o arrepio que elas causam. à como se fossem as próprias vozes da torcida vibrando no concreto enquanto os pés tentam se equilibrar no que resta de racionalidade naquele momento.
A chegada à s arquibancadas é o ápice dessa epifania, mas o caminho até elas já explica por que esse estádio é chamado âtemplo do futebolâ. Ninguém passa ileso à s rampas do Maracanã lotado.
Em 2016, eu não passei. Não era a primeira vez que estava ali, mas a ocasião justificava o momento distinto que me permitiu viver plenamente a emoção torcedora (em vez da razão jornalÃstica) na arquibancada.
Era a semifinal da seleção brasileira feminina nos Jogos OlÃmpicos de 2016. Um time de lendárias (Marta, Cristiane e Formiga) reveria o estádio lendário quase dez anos depois do primeiro encontro (no Pan de 2007).
Uma multidão verde e amarela tomava conta do metrô no caminho até as fatÃdicas rampas do Maracanã.
âOlê olê olê olá, Marta, Martaâ, entoavam torcedores com camisas que tinham o nome da brasileira seis vezes melhor do mundo. O grito fazia eco na rampa e tomava conta do estádio. Era o templo do futebol reconhecendo o talento das mulheres que, no ano de sua inauguração, ainda eram proibidas de jogar por um decret