Mircea Lucescu, 74, se atrapalha nas palavras. Algumas saem em espanhol, outras em italiano. Ele fica quase ofendido com a sugestão de que a entrevista pode ser feita em outra lÃngua que não o português.
“Não, de jeito nenhum. Vamos falar em português. Eu preciso praticar.”
Entre todos os jogadores que enfrentaram a seleção brasileira na Copa de 1970, provavelmente nenhum se identifica tanto com o Brasil quanto o então atacante romeno, hoje treinador e que teve convite para dirigir o Santos no fim de 2019.
Nos 12 anos em que dirigiu o ucraniano Shakhtar Donetsk, ele chegou a ter 12 jogadores do paÃs no elenco. Lucescu ainda mantém contato com alguns deles, como o meia Jadson.
“Eu me apaixonei pelo Brasil porque estive lá antes da Copa do Mundo. Fizemos uma excursão em 1967 e participamos de torneio de verão no inÃcio de 1970”, lembra o ex-atacante. Há 50 anos, em 10 de junho de 1970, ele vestiu a camisa 9 no calor de Guadalajara.
Lucescu lamenta ter perdido uma boa chance para marcar. Poderia ter mudado a história de um jogo, afirma, que todos no Brasil pensaram que seria fácil. O placar final foi um apertado 3 a 2 para o time que seria tricampeão mundial.
“Nunca houve uma equipe tão boa em Copas do Mundo como aquele Brasil de 1970. Todo o torneio, tecnicamente, foi fantástico. Foi uma partida muito importante para o futebol romeno. Um enorme espetáculo”, diz Lucescu.
A chance perdida pelo então centroavante aconteceu quando o Brasil vencia por 2 a 1. Pelé depois faria o terceiro, e Dembrowski diminuiria aos 39 do segundo tempo.
“Nós dominamos os seis minutos finais e poderÃamos ter empatado. Me lembro de tudo desse jogo, foi uma coisa fantástica. Aquele Brasil era imbatÃvel. Clodoaldo, Gerson, Rivellino, Pelé… O meio de campo era grandÃssimo.”
As lembranças de Lucescu, na época jogador do DÃnamo Bucareste, um dos times mais populares da Romênia, não estão apenas na cabeça. Paulo Cézar Caju, integrante daquela seleção brasileira, mandou para ele por meio de um amigo uma fita VHS com a narração em português.
“A transmissão brasileira não tem igual, por causa do espetáculo que cria e o entusiasmo [do narrador]”, afirma.
A outra recordação está pendurada na parede de sua casa. A camisa usada por Pelé naquela tarde no México foi enquadrada da mesma forma como lhe havia sido entregue pelo brasileiro. Lucescu nem sequer a mandou lavar. “Todos queriam trocar camisa com Pelé. Eu fui mais rápido e consegui.”
O primeiro contato do romeno com o futebol brasileiro, já com o pensamento na Copa do Mundo, que seria a primeira da sua seleção, aconteceu em 1967. Foram realizados amistosos em Belém, Natal, Salvador, São Paulo, Ribeirão Preto, Campinas, Curitiba e Londrina. As cidades são citadas uma a uma, de memória, pelo hoje treinado