Nos contratos de indenização que o Flamengo fez com ao menos 4 das 10 famÃlias das vÃtimas do incêndio no Ninho do Urubu, ocorrido no dia 8 de fevereiro do ano passado, o clube estipulou multas de até R$ 500 mil caso os detalhes dos documentos sejam revelados.
Um dos acordos, ao qual a Folha teve acesso, estipula que os indenizados e o clube concordam em não divulgar os termos e condições financeiras em que eles foram firmados, mantendo-os sob estrita confidencialidade, incluindo detalhes das negociações que precederam o acerto.
Em dezembro, o próprio clube revelou detalhes dos contratos à Justiça, atitude justificada pela previsão de que sua utilização como ferramenta de defesa judicial não pode ser considerada violação do compromisso de confidencialidade.
Por conta do sigilo, o Flamengo colocou nos documentos anexados ao processo uma tarja no valor da indenização acertada. O clube se comprometeu a pagar cem prestações mensais.
Procurado, o clube disse que só irá se pronunciar sobre o tema neste sábado (1º), por meio de uma entrevista em seu canal oficial de TV na internet. â
Atualmente, a agremiação se defende de liminar concedida pela Justiça em dezembro que a obriga a pagar R$ 10 mil mensais como pensão à s famÃlias até a decisão final sobre as indenizações. O processo corre na 1ª vara cÃvel da Barra da Tijuca.
O Flamengo contestou a decisão afirmando que a Justiça não considerou o fato de que o clube paga de forma espontânea R$ 5.000 mensais à s famÃlias nem que a agremiação fez acordos com algumas delas.
Para uma das defesas ouvidas pela reportagem, o ato foi uma “liberalidade” da agremiação, sem contar com a aceitação ou não dos parentes, como forma de demonstrar que o clube deseja colaborar.
No processo, o Flamengo anexou 10 comprovantes de depósitos feitos em fevereiro do ano passado em nomes de parentes dos mortos para comprovar a mensalidade citada.
O clube argumenta que R$ 5.000 é um valor bem superior aos R$ 300 que os atletas recebiam como ajuda de custo nas categorias de base. Para os advogados do time rubro-negro, os R$ 10 mil impostos pela Justiça não são razoáveis nem têm amparo legal.
A decisão também prevê que, caso o Flamengo descumpra a determinação, deverá arcar com multa diária de R$ 1.000 para cada beneficiário. Em razão do sigilo, famÃlias evitam falar sobre o caso, mas confirmaram que estão recebendo os R$ 10 mil mensais.
José Lopes Viana, pai de Rykelmo, uma das vÃtimas, foi um dos que já fecharam acordo com o clube.
“Mandaram duas propostas, e eu não aguentava mais pensar em dinheiro, principalmente da maneira que foi. Nunca dependi de dinheiro dele [Rykelmo], não era o que eu queria, queria ver ele feliz. Era o que ele sempre sonhou, jogar bola”, disse Viana.
Ele é divorciado da mãe da vÃtima,