Ele morreu jovem, mas se negou a partir. Mais vivo do que nunca –aliás, tão vivo quanto sempre, Heleno de Freitas completa nesta quarta (12) 100 anos de idade.

Esguio, esbelto, com gomalina nos cabelos, segue o mesmo incorrigível galã. Melhorou muito, principalmente em relação à última impressão deixada: a daquela figura esquálida e deformada, que faleceu de forma melancólica em um pacato sanatório de Barbacena, aos 39 anos de idade.

Sempre que há chance, as novas gerações, ávidas pelos personagens lendários do esporte, perguntam-me se esse ídolo, cuja mitologia em torno de si ultrapassa a barreira do tempo, teria vez no futebol “moderno” de hoje.

É difícil bater martelo no campo hipotético, mas a resposta tem tudo para ser negativa. Não que seu estilo não coubesse no futebol atual. Simplesmente, o futebol atual não comporta alguém tão denso e intenso feito Heleno de Freitas.

Para começo de conversa, explicar com quem ele se parece é tarefa hercúlea. Não há como compará-lo à atual safra de jogadores, esses bons meninos de penteados esdrúxulos e discursos pasteurizados à base do politicamente correto. Com o fim de traduzi-lo, precisaríamos reunir gerações distintas do passado e, vá lá, do presente. Caso contrário, o complexo se torna impossível.

Bem, o grande Heleno nasceu em berço esplêndido. Portanto, é de boa família, feito Kaká. Era elegante, como Zidane. Inteligente, tipo Alex. Culto, nível Tostão. Político, à Sócrates. Bonito, estilo Raí. Mulherengo, tal qual Romário. Polêmico, como Paulo Cezar Caju. Irascível, vide Edmundo. Pavio curto, feito Mário Sérgio. Cabeceador, estilo Jardel. Craque, nível Ibrahimovic. Artilheiro, tipo Cristiano Ronaldo. Vaidoso, tal qual Beckham. Matava no peito à Pelé. Autodestrutivo, feito Adriano. Doente, como Jobson. E de fim trágico, minado pelas drogas, ao pior estilo Valdiran.

Contudo, dificilmente algum jogador brasileiro de hoje estudaria em colégio tão tradicional como o São Bento –o mesmo de Jô Soares, Heitor Villa-Lobos, Paulo Francis, Franco Montoro. Mais do que isso, Heleno se formou em direito –atualmente atleta tupiniquim letrado é, no máximo, autodidata, exceção à regra.

Bebia vermute ouvindo jazz na varanda do Copacabana Palace, e nisso não dá para imaginar que aquele que seduziu de Nelson Rodrigues a Gabriel García Márquez frequentasse pagodes movidos a sertanejo universitário.

Perfeccionista, Heleno brigava em campo com os pr

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