Criado para dar mais poder ao jogador ofendido numa partida, o protocolo contra o racismo da Uefa (união das entidades europeias de futebol) pode piorar a situação, como aconteceu com o atacante malinês Moussa Marega, do Porto (POR), no dia 15 de fevereiro.

Ofendido pela torcida na casa do adversário, o Vitória de Guimarães, ele quis deixar o campo, direito garantido pelas regras da entidade esportiva. Mas se viu cercado e até pressionado por colegas de equipe que tentavam convencê-lo do contrário.

“Os jogadores precisam combinar antes de entrar no campo como vão reagir caso aconteça algo, para não chegar a uma situação estúpida como a do jogo do Porto”, diz Raymond Beaard, da FIFPro, federação europeia de profissionais de futebol.

A entidade está se reunindo com os atletas para explicar seus direitos e orientá-los a debater com antecedência que atitude tomar.

“Não há escolha melhor ou pior, mas tem que haver coesão do time”, afirma.

É uma medida apenas paliativa, segundo Beaard, já que, quando o protocolo é aplicado, o racismo já se manifestou. As regras da entidade europeia seguem três etapas. Na primeira, o juiz interrompe o jogo e os alto-falantes pedem que os torcedores parem com as ofensas racistas.

Se houver reincidência, a partida é suspensa, e os jogadores podem decidir se saem de campo ou não. É aqui que o consenso prévio pode ajudar.

O último passo é cancelar a partida, com possível perda de pontos para a equipe ofensora, além das sanções já previstas pela Uefa, como multas, perda de mando de campo e suspensões.

Mas dificilmente os árbitros chegam à medida mais extrema, o que reduz a eficácia da regra, segundo entidades que trabalham pela igualdade no futebol.

“Isso acontece porque os juízes também não recebem apoio suficiente das entidades do futebol. Como já são muito visados, a pressão de tomar uma decisão drástica fica muito forte”, diz a historiadora Brenda Elsey, da Fare, rede de entidades que combatem a discriminação no futebol.

“Se o juiz não reage imediatamente assim que acontecem as ofensas, o regulamento pode ser bem feito, mas inútil”, acrescenta Beaard.

De fato, apesar de dados da Uefa mostrarem aumento nas punições por discriminação nos últimos três anos, também cresceram os relatos de racismo nos jogos de futebol. 

Na Inglaterra, a organização Kick It Out registrou alta de 67% nas queixas de discriminação feitas por jogadores profissionais na última temporada europeia, com um total de 184 denúncias.

Para Beaard, que acompanha a situação há dez anos, os casos ficaram mais visíveis nos últimos quatro.

Parte se deve à iniciativa dos jogadores de falar mais abertamente sobre o tema, mas as ofensas também se agravaram, diz o membro da FIFPro.

“Sentimentos e discursos nacionalistas estão sendo tolerados ou até incentivados em vários países da Europa e permeiam a sociedade toda, inclusive o futebol”,

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