A rotina de Matteus Oliveira Santos, 30, era treinar durante a semana e jogar três ou quatro partidas aos sábados e domingos pelos campos de várzea de São Paulo. A cada vez que entrava em campo, recebia de R$ 200 a R$ 300. Agora, tudo mudou.

Os dias do volante, que foi profissional no Athletico e nos paulistas Portuguesa, Ferroviária e Água Santa, passaram a ser gastos ao telefone. Conhecido no mundo do futebol amador, ele tem entrado em contato com amigos para tentar identificar outros jogadores que vivem da várzea e estejam em dificuldades.

“Há muita gente desesperada, mas com vergonha de admitir a situação em que está, sem dinheiro para alimentar a família. Eles estão perdidos, sem saber o que fazer. Eu estou encarregado de ir atrás dessas pessoas”, afirma Matteus.

Não há um número confiável de quantos costumavam jogar futebol nos campos de várzea de São Paulo a cada fim de semana. Na Super Copa Pioneer, a mais tradicional da capital, são 3.000. De acordo com Sergio Pioneer, organizador do campeonato, a maioria das 80 equipes paga cachês aos seus atletas.

“Muitos amigos meus não têm renda fora do mundo da bola. Eles têm tentado se virar, vai para um lado, vai para o outro, e pedem ajuda a quem podem. Mas o círculo está se fechando”, diz o goleiro Altamir dos Santos, o Mila, 38, que atua por times da zona sul de São Paulo, como Triângulo e Palestra.

A Folha conversou com dois deles, que preferem não se identificar pois têm vergonha de não conseguir comprar comida para a família.

Com histórias semelhantes, eles passaram pelas categorias de base de grandes times de São Paulo e depois por pequenas equipes do interior, até ficarem desempregados. Sem outra profissão, viram na várzea uma saída. Casados, conseguiam ganhar entre R$ 2.500 e R$ 3.000 por mês no futebol amador.

“Se você está em um bom time e é campeão de um torneio como a [Super] Copa Pioneer, pode receber um prêmio de R$ 3 mil só pelo título”, diz Matteus.

Isso era possível até a pandemia da Covid-19 suspender o mundo do esporte, inclusive os torneios amadores. A paralisação na várzea aconteceu antes mesmo da parada do Campeonato Paulista da Série A1, em 16 de março.

“Não estamos falando apenas de jogadores. Há árbitros e jornalistas que vivem do futebol de várzea e ficaram sem renda nenhuma por causa do coronavírus”, relata Sergio Pioneer, organizador da Super Copa.

Para ajudar, ele acionou patrocinadores e outras entidades envolvidas no esporte com o objetivo de arrecadar cestas básicas. “Pedi auxílio para empresas que apoiam o torneio, como a construtora Cury e a Claro. Fizemos uma campanha em que esperávamos conseguir entre 8 e 10 toneladas. Arrecadamos 43.”

Junto com a Liga de Diadema, a ideia é atender a todas as famílias que vivem da várzea e precisam de ajuda.

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