Antes de escrever esta coluna, fiz uma reflexão âque vale para todos os que estão lendo.Ao longo da sua vida, quantas pessoas negras fizeram parte da sua trajetória? Na escola, quantos colegas negros você teve? No esporte que praticava ou pratica, algum negro ou negra já foi seu treinador? No seu trabalho, quantos chefes negros você já teve? E nos lugares que frequenta, você encontra pessoas negras? Elas estão servindo ou curtindo da mesma maneira que você? Como mulher branca, minhas respostas pra essas perguntas são quase sempre ânenhumâ.
No futebol, vão dizer, já é diferente. Há muitos negros protagonistas, inclusive o rei de todos eles, Pelé. Mas é como se em apenas um lugar esse protagonismo fosse permitido: dentro de campo. Como técnicos, são raros. Como dirigentes, são rarÃssimos. E se a gente ampliar a discussão para mulheres negras, vamos perceber que nossa visão racista do esporte nem sequer permite enxergá-las.
Quantas atletas brasileiras negras de destaque conseguimos listar? Dez? Vinte? Nem isso? Vamos falar das jornalistas esportivas, então. Se já é difÃcil ver mulheres nessa função, vamos tentar pensar em quantas negras conhecemos ocupando esse espaço. De quantas você conseguiu se lembrar?
Num paÃs onde 56% da população é negra (dados da Pnad), nós, brancos, nos acostumamos a não ver pretos mandando âsó obedecendo. Passamos a vida toda achando ânormalâ ver negros como garçons e âestranhoâ quando o dono de um restaurante se apresenta e ele é negro. Aplaudimos a beleza e o gingado da mulher negra no Carnaval, mas atacamos a apresentadora negra do jornal.
Na onda de protestos que ganhou mais força mundialmente após a repercussão da morte de George Floyd (e é importante lembrar que, no Brasil, temos um caso desses a cada 23 minutos), vi um debate em que o jornalista Breiller Pires chamou a atenção para algo que eu nunca havia notado: sempre perguntamos a treinadores, repórteres, dirigentes negros sobre a falta de oportunidade para eles nessas funções. Mas por que não perguntamos o mesm