O estádio estava lá, firme e forte como sempre. Gigantesco.
Mas havia algo estranho no ar. Ou melhor, na terra mesmo, nas ruas em torno de sua segunda casa, nas calçadas.
Quase 4 horas da tarde e o silêncio era ensurdecedor.
Quando Geraldinosson chegou ao portão principal, aquele que sempre encontrou aberto ao entrar, e tantas vezes quis que se fechasse e guardasse para sempre suas emoções, estava, de fato, fechado.
E não havia viva alma para explicar por quê.
Apenas, na bilheteria em que ele já havia comprado mais de 2 mil ingressos em seus 50 anos de vida, um cartaz com o aviso: “Jogo cancelado”.
Na cabeça de Geraldinosson aquilo não fazia o menor sentido.
Como cancelar sem mais nem menos um clássico tão importante? “Será que o mandante foi punido e o jogo vai ser disputado sem torcida?”, pensou ao lembrar de castigos anteriores.
Mas o aviso era em sueco muito claro: “Jogo cancelado”.
Pensando bem, concluiu que era mesmo melhor cancelar a manter jogos sem a razão de ser do futebol, o torcedor.
Embora estivesse com um problemaço para resolver: o que fazer naquele sábado? E, se a moda pega, no domingo?
Geraldinosson tinha ouvido falar num tal vÃrus com nome de cerveja mexicana, sem levar muito a sério. Nunca poderia imaginar consequência tão terrÃvel. Sem futebol?!
Já tinha visto outras gripes fortes e assustadoras, lavava sempre as mãos, fazia exercÃcios, estava saudável e, agora, sem seu passatempo predileto.
Passatempo?!
Não, não reduza a paixão a mero passatempo.
Como sobreviver aos novos tempos de cólera?
Ao tomar o metrô de volta para casa, Geraldinosson tentou achar algum ponto positivo naquilo tudo.
Não demorou a encontrar.
Seu time fazia péssima campanha no campeonato, caÃa pelas tabelas, mais perto da segundona que da disputa do tÃtulo.
Há males que vêm para bem, concluiu. “Vai que o campeonato é anulado, não tem campeão, nem rebaixamento, nem nada.”